EXAME DE ORDEM/ES  AGOSTO 1998 – 2ª fase

 

 

PENAL

 

1ª QUESTÃO

Reservino e Hertácio, amigos de farras e parceiros de algumas incursões no mundo do crime, avistando Rupenícia, mulher de vida fácil que, após mercadejar o seu corpo num lupanar da cidade se dirigia para a sua residência, rendem-na sob a mira de armas brancas, e levam-na para local ermo, onde Reservino a estupra e Hertácio mantém com ela apenas coito anal.

Todavia, não satisfeito, Hertácio lhe subtrai, da bolsa, a importância de R$ 100,00, após surrá-la.

À vista do enunciado, tipifique as condutas de Hertácio e Reservino, à luz do Direito Penal.

 

2ª QUESTÃO

Ronaldo solicitado regularmente a identificar-se, apresenta a Carteira de Identidade de seu amigo Romário, que sabia adredemente falsificada, como se fora a sua própria.

Pergunta-se: Qual o crime cometido por Ronaldo? Justifique.

 

3ª QUESTÃO

Estrepulino, escrivão de polícia, recebe determinação do delegado ao qual é subordinado, no sentido de intimar Favorecino, testemunha reputada, pelo delegado, vital para o esclarecimento dos fatos em apuração. E, por entender que, a final, Favorecino, em verdade, nada tem a esclarecer, deixa a expedição do mandado de intimação para daí a alguns dias, acabando por esquecer de expedi-lo. Encaminhando o Inquérito Policial à Justiça, sem a oitiva de Favorecino, este é devolvido, a requerimento do Ministério Público, para que aquela providência seja adotada.

Pergunta-se: Estrepulino cometeu algum crime, por não haver atendido a determinação do Delegado? Qual ? Justifique ?

Estrepulino não cometeu crime? Justifique

 

 4ª QUESTÃO

O MM. Juiz da 54ª Vara Criminal da Comarca da Serra decreta a prisão preventiva de "NP" em decreto assim redigido:

"Considerando a gravidade objetiva da conduta do acusado; Considerando que a conduta do acusado mereceu a reprovação da imprensa local, como o demonstra a notícia publicada no jornal "O Correio", datado de ontem; Considerando que o acusado é pessoa influente e, em liberdade, poderá influenciar na coleta das provas, bem como se furtar à eventual aplicação da Lei Penal; Considerando, ainda, tudo o mais que dos autos consta e entendendo, pelos motivos expostos, que a prisão preventiva é necessária para a regular produção da prova e para assegurar a aplicação da Lei Penal, DECRETO a prisão preventiva de "NF".

Elabore, em face do decreto de prisão preventiva, habeas corpus em favor de "NF"

 

 

TRABALHO

 

1ª QUESTÃO

Um trabalhador foi dispensado sob o fundamento de Ter cometido falta grave, acusado de causar acidente de veículo, sob a influência de bebidas alcoólicas, tendo a empresa de arcar com prejuízo de R$ 6.532,00 (seis mil quinhentos e trinta e dois reais).

A empresa está se negando a pagar as verbas rescisórias, calculadas em R$ 6.650,00 (seis mil seiscentos e cinqüenta reais), pelo motivo acima exposto, afirmando também que os prejuízos poderiam ser descontados de tais verbas, se devidas fossem.

Analise os argumentos de cada parte e as chances de êxito em relação às respectivas pretensões, inclusive em termos de provas. Indique as normas jurídicas incidentes no contexto da líde.

 

2ª QUESTÃO

João da Silva, que trabalha habitualmente em pequenas construções e reparos, possuindo microempresa registrada, procurou um escritório de advocacia, alegando que fora contratado para a construção de um muro em um imóvel comercial, tarefa na qual trabalhou durante 06 (seis) meses, recebendo em média R$ 400,00 (quatrocentos reais) por mês (conforme medições da obra), tendo sido dispensados seus serviços sem que o muro tivesse sido terminado. O dono do imóvel justificou a cessação dos serviços por supostos erros na execução do contrato.

Analise a situação decorrente deste relato, orientando o cliente, inclusive quanto à(s) possível (is) alternativas (s) de enquadramento legal do contrato. Trabalho, o que seria viável pleitear em favor do cliente, com as verbas e valores cabíveis, bem como as alegações de ordem processual e material que poderiam ser opostas pelo demandado.

Obséquio indicar os dispositivos legais que justificam seu entendimento.

 

3ª QUESTÃO

O contrato de trabalho de um empregado, iniciado há mais de cinco anos e ainda vigente, sofreu alterações em vários aspectos:

·                                 primeiro, o empregador retirou, alegando grande queda no movimento geral do negócio no último ano, um prêmio pelo faturamento geral da empresa, concedido durante três anos;

·                                 mais tarde, foi o trabalhador transferido para outra localidade, distante cerca de 15(quinze) quilômetros do estabelecimento anterior, sob a alegação da necessidade do serviço;

·                                 a função exercida pelo empregado foi mudada, passando ele a desempenhar tarefas pertinentes ao setor de contabilidade (antes, estava lotado no setor de planejamento de vendas);

·                                 a jornada diária de trabalho, inicialmente de 07 (sete) horas, foi primeiro reduzida para seis horas, durante um mês, e mais tarde ampliada para oito horas/dia, com o pagamento de adicional de 30% do salário, a título de horas extras, somente sobre uma hora.

Analise os aspectos acima enumerados, à luz dos princípios e normas aplicáveis à matéria, orientando o trabalhador sobre os direitos que seriam cabíveis em decorrência desta narrativa.

 

4ª QUESTÃO

Na qualidade de Procurador de uma autarquia estadual que não explora atividade econômica, você é designado(a), numa emergência, para atuar em reclamação trabalhista, na qual figuram dois litisconsortes no pólo ativo.

A 1ª Reclamante, cujo contrato de trabalho existe há mais de 1(um) ano, recebia salário mensal de R$ 1.000,00 (mil reais), laborando de 08:00 às 18:00 horas, em quatro dias na semana, e até as 17:00 horas, às 6ª feiras, sempre com 1 hora de intervalo, totalizando 44 horas semanais. Este acréscimo na jornada diária estava previsto em acordo coletivo, mediante compensação do Sábado.

O 2º Reclamante trabalhou durante oito meses e recebeu o equivalente a 1 salário mínimo e meio, com jornada id6entica à da 1ª Reclamante. Cerca de seis meses antes do término do contrato, este Autor teve suprimido o pagamento do adicional de periculosidade, por entender o empregador Ter desaparecido a situação que dava ensejo a esta verba. O pacto laboral deste Reclamante já fora rescindido, tendo ele ingressado com a reclamação dois anos e vinte oito dias depois de receber o aviso prévio do rompimento da relação empregatícia.

Foram pleiteados por ambos os Reclamantes:

·                                 horas extras, à base de quatro horas semanais;

·                                 pagamento em dobro de todas as verbas pleiteadas, por não terem sido satisfeitas na época em que seriam devidas;

·                                 honorários advocatícios de 25% (vinte e cinco por cento) sobre o montante da condenação.

·                                 O 2º Reclamante pediu também o pagamento do adicional suprimido, retroativo à data em que o mesmo foi retirado de sua remuneração, bem como os reflexos das horas extras e do adicional nas verbas resilitórias.

A Reclamante argüiu, na contestação, toda a matéria cabível, mas a decisão de 1º grau acolheu integralmente os pleitos dos Reclamantes.

A intimação da sentença ocorreu no dia 10/06/98 (4ª feira), sendo o dia seguinte (11/06) feriado nacional, estando o fórum trabalhista fechado no dia subsequente (12/06). Você só foi avisado(a), para assumir a questão, pelo Chefe da Procuradoria da entidade autárquica de que é Procurador, no dia 21/06/98 (Domingo), à tarde.

Analisando a situação aqui exposta, elabore recurso ordinário, observando os pressupostos processuais e mencionando as normas jurídicas aplicáveis à matéria objeto da lide.

 

CIVIL

 

1ª QUESTÃO

É possível conceder proteção possessória aquele que esbulha com violência a quem se tenha imitido clandestinamente na posse pertencente ao ausente? Em caso afirmativo, em quais circunstância?

 

2ª QUESTÃO

Concedida a liminar em ação cautelar, é possível sua revogação ex ofício pelo juiz que a deferiu? Justifique.

 

3ª QUESTÃO

Na ação de exigir contas o recolhimento do pedido provoca a extinção do processo prevista no artigo 269, II do CPC? E em caso de revelia, importa em julgamento antecipado da lide?

 

4ª QUESTÃO

Eugenio Sabido, em razão de seu elevado QI, colou grau no curso de bacharel em Administração de Empresas, embora contasse com apenas dezessete anos de idade. Seu pai, por tal motivo presenteou-lhe com um veículo 0KM. Ao sair para comemorar, encontrou-se com Raimunda, mulher vivida e experiente, com quem manteve conjunção carnal, vindo esta a conceber. Seu pai, homem de formação moral rígida, determinou que seu filho de casasse com aquela mulher em razão da gravidez, sob pena de colocá-lo para fora de casa e retirar-lhe a mesada. Eugenio casou-se com Raimunda logo após o nascimento da criança. Ao completar 21 anos, Eugenio ingressou com ação anulatória de casamento, alegando que sofrera coação de seu pai, sendo tal ato inquinado de vício. Foi protocolizada a seguinte petição inicial:

"Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara de Família da Comarca de Vitória – ES "

Eugenio Sabido, brasileiro, casado, administrador de empresas, com endereço a rua das Virgens, 24, Bairro Nobre, nesta Capital, por seu advogado adiante assinado, constituído nos termos da procuração inclusa, com endereço abaixo impresso onde recebe intimações, vem respeitosamente perante V. Exa. Propor a presente AÇÃO ANULATÓRIA DE CASAMENTO, em face de Raimunda Esperta, brasileira, casada, do lar, com endereço à rua das Ostras, Ilha dos Pecados, s/n, Vitória-ES, pelos fatos e fundamentos seguintes:

1.                               O Autor casou-se com a Ré há cinco anos, em razão de estar a mesma em estado interessante (doc. Anexo). Ocorre que o postulante contava à época a idade de 17 (dezessete) anos, menor incapaz 9doc. Anexo), tendo contraído núpcias com a Ré em razão de ameaças feitas por seu pai, homem de moral rígida intransigente quanto aos seus princípios religiosos.

2.                               O Autor, por ser ainda uma criança, sentiu-se intimidade com a ameaça do pai de colocá-lo para fora de casa e de cortar-lhe a mesada, fato esse confirmarem o alegado. Temendo não Ter como sustentar-se, sucumbiu aos caprichos paternos vindo a casar-se, embora deixasse claro que o estava fazendo por medo de ficar ao desabrigo.

3.                               Por ser menor quando da realização do casamento, e por não poder arcar com as custas processuais, o Autor comparece somente agora em Juízo, já que com a maioridade alcançou sua capacidade plena, para pleitear a anulação do ato inquinado, posto que viciado pela coação.

4.                               Posto isto, requer seja julgada procedente o pedido para anular o ato praticado com vício de vontade, e condenar a Ré nas custas processuais e honorários advocatícios.

5.                               Requer a citação da Ré para contestar a presente ação sob pena de revelia.

6.                               Protesta por todos os meios de provas admitidos em direito, especialmente testemunhal, depoimento pessoal da Ré, pena de confesso, e demais que se fizerem necessárias.

7.                               Dá à Causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) para fins de direito.

 

Pede Deferimento.

Vitória, 09 de agosto de 1998.

 

NOBRE CAUSÍDICO

Advogado OAB/ES 000

 

RAIMUNDA

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