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topicoEm geral, o parágrafo-padrão, aquele de estrutura mais comum e mais eficaz — o que justifica seja ensinado aos principiantes —, consta, sobretudo na dissertação e na descrição, de duas e, ocasionalmente, de três partes: a introdução, representada na maioria dos casos por um ou dois períodos curtos iniciais, em que se expressa de maneira sumária e sucinta a ideia-núcleo, o desenvolvimento, isto é, explanação mesma dessa ideia-núcleo; e a conclusão, mais rara, mormente nos parágrafos pouco extensos ou naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

Constituído habitualmente por um ou dois períodos curtos iniciais, o tópico frasal encerra de modo geral e conciso a ideia-núcleo do parágrafo. É uma generalização, em que se expressa opinião pessoal, um juízo, se define ou se declara alguma coisa. É provável que tal estrutura, predominante também em muitas línguas modernas, todas indo-européias, todas marcadas pela herança greco-latina, decorra de um processo de raciocínio dedutivo

Exemplo:

O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie humana para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo, debaixo dos trópicos. Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores de uma das mais amplas, profundas e graves empresas que ainda se acharam em mãos da humanidade. Os navegadores das descobertas que chegaram até nós impelidos pela vibração matinal da Renascença, cumpriram um feito que terminava com o triunfo na luz da própria glória; belo era o país que descobriam, opulenta a terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em redor se desdobrava; podiam voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira.

(Três livros, p. 332)

Diferentes tipos de tópico frasal

Admitindo-se como recomendável essa técnica de iniciar o parágrafo com o tópico frasal, resta-nos mostrar algumas das suas feições mais comuns. Há vários artifícios, que a leitura dos bons autores nos pode ensinar. Conhecê-los talvez contribua para abreviar aqueles momentos de indecisão que precedem o ato de redigir as primeiras linhas de um parágrafo, pois, com frequência, o estudante não sabe como começar. Ora, o tópico frasal lhe facilita a tarefa, porque nele está a síntese do seu pensamento, restando-lhe fundamentá-lo.

a) Declaração inicial — Esta é, parece-nos, a feição mais comum: o autor afirma ou nega alguma coisa logo de saída para, em seguida, justificar ou fundamentar a asserção, apresentando argumentos sob a forma de exemplos, confrontos, analogias, razões, restrições — fatos ou evidência. Exemplo:

Vivemos numa época de ímpetos. A Vontade, divinizada, afirma sua preponderância, para desencadear ou encadear; o delírio fascista ou o torpor marxista são expressões pouco diferentes do mesmo império da vontade. À realidade substituiu-se o dinamismo; à inteligência substituiu-se o gesto e o grito; e na mesma linha desse dinamismo estão os amadores de imprecações e os amadores de mordaças (...)

(Gustavo Corção, Dez anos, p. 84)

Às vezes, a declaração inicial aparece sob a forma negativa, seguindo-se-lhe a contestação ou a confirmação, como faz Rui Barbosa no trecho abaixo:
Generalização (tópico frasal):

Especificação (desenvolvimento):


Não há sofrimento mais confrangente que o da privação da justiça. Ascrianças

o trazem no coração com os primeiros instintos da humanidade, e, se lhes magoam essa fibra melindrosa, muitas vezes nunca mais o esquecem, ainda que a mão, cuja aspereza as lastimou, seja a do pai extremoso ou a da mãe idolatrada (...).

{Apud Luís Vianna, Antologia, p. 95)

O primeiro período poderia servir de título ao parágrafo: é uma síntese do seu conteúdo.

b) Definição — Frequentemente o tópico frasal assume a forma de uma definição. E método preferentemente didático, ou seja, é uma forma de iniciar parágrafos sobre termos que pedem uma ligeira conceituação. No exemplo que damos a seguir, a definição é denotativa, isto é, didática ou científica:

Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimentos. Resulta de um conjunto de dotes externos ou internos, que se fundem num todo harmônico e se manifestam por modalidades de expressão a que se dá o nome de figuras.

(Augusto Magne, Princípios..., p. 39)

c) Divisão — Processo também quase que exclusivamente didático, dadas as suas características de objetividade e clareza, é o que consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de divisão ou discriminação das ideias a serem desenvolvidas:

Exemplo:

O silogismo divide-se em silogismo simples e silogismo composto (isto é, feito de vários silogismos explícita ou implicitamente formulados). Distinguem-se quatro espécies de silogismos compostos:(...)

(Jacques Maritam, Lógica menor, p. 246)

Via de regra, a divisão vem precedida por uma definição, ambas no mesmo parágrafo ou em parágrafos distintos.

d) Alusão histórica

Recurso que desperta sempre a curiosidade do leitor é o da alusão a fatos históricos, lendas, tradições, crendices, anedotas ou a acontecimentos de que o Autor tenha sido participante ou testemunha. É artifício empregado por oradores — principalmente no exórdio — e por cronistas, que, com freqüência, aproveitam incidentes do cotidiano como assunto não apenas de um parágrafo mas até de toda a crônica.

No exemplo seguinte, Rui Barbosa tira grande partido da alusão a uma tradição americana — a do Sino da Liberdade — para tecer considerações sobre a importância da justiça e do poder judiciário na vida política de um povo:

Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos sons anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos, inopinadamente se fendeu, estalando, pelo passamento de Marshall. Era uma dessas casualidades eloqüentes, em que a alma ignota das coisas parece lembrar misteriosamente aos homens as grandes verdades esquecidas (...).

Rui Barbosa

e) Interrogação

As vezes, o parágrafo começa com uma interrogação, seguindo-se o desenvolvimento sob a forma de resposta ou de esclarecimento:

Sabe você o que é manhosando? Bem, eu lhe explico, que você é homem de asfalto, e esse estranho verbo só se conjuga pelo sertão nordestino.

Talvez o amigo nem tenha tempo para manhosar, ou quem sabe se dorme tanto, que ignora esse estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília. O espírito está recolhido, mas o ouvido anda captando os sons, que não mais interferem, todavia, com a quietude, com a paz interior. Nesses momentos somos de um universo de sombras, em que o nosso pensamento flutua livre, imitando aquele primeiro dia de Criação, quando a vontade de Deus ainda era a única antes de separadas as trevas e a luz. (...)

(Dinah Silveira de Queiroz, "Manhosando" In: Quadrante 2, p. 109)